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Pontes – Artigo do geógrafo ilheense Ruy Santana

Ruy Santana.
Ruy Santana.

As travessias sobre um rio podem ser feitas das mais diversas formas: de canoa, barco ou, até mesmo, nadando. A esta última é necessária uma mínima habilidade física, que outrora era comumente vista e apreciada pela população ilheense nos campeonatos de triathlon que aconteciam, anualmente, na Baía do Pontal. Os moradores mais antigos ainda relatam que a travessia Ilhéus-Pontal de canoa, antes do surgimento da – não sei se já tenho licença para dizer isso – antiga ponte, tinha sua beleza semi-bucólica e, para alguns, era uma vivência bastante pavorosa; afinal, a natação não é como os cinco sentidos, pois estes estão intrínsecos ao ser humano.

Vale lembrar que, assim como a urbanização brasileira, em Ilhéus, durante a segunda metade do século XX, o crescimento urbano passou a acontecer de forma cada vez mais acelerada: conforme a população se expandia, aumentava também o fluxo entre as localidades. Dessa forma, impulsionada pela vontade e necessidade do povo, sob o mandato do governador Lomanto Júnior, em 1966, foi entregue a ponte de nome Lomanto Júnior. Parece redundância, né?! Talvez seja, mas esse é o nome da ponte e de toda a avenida que margeia a Baía do Pontal, Lomanto Júnior. Assim, a ponte, popularmente chamada de Ilhéus-Pontal, durante décadas, foi palco de muitos momentos críticos e um tanto quanto curiosos. Seja porque foi tomada pelos estudantes durante protestos, ou pelos indígenas que reivindicavam as suas mais justas causas. Ahhh, qual o ilheense nunca escutou frases, como “a ponte está fechada”, “o ônibus quebrou na ponte”, e qual nunca ficou, com receio de sua estrutura, “essa ponte não sei não, viu?”.

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Logo, nos últimos anos, a população local passou, cada vez mais, a sentir necessidade de uma nova ligação entre o bairro Pontal e o Centro de Ilhéus; costumava-se dizer que o engarrafamento da ponte impedia o crescimento e desenvolvimento da cidade. É fato que ninguém se acostumou a ficar muitos minutos, às vezes, horas, apenas para atravessar para o outro lado da cidade. Eis que, em 2014, inicia-se a construção de uma nova ponte, alguns até chegaram a dizer que nunca iria ficar pronta. O local da construção também foi questionado – de fato, talvez, fosse melhor a criação de um anel rodoviário – possíveis nomes surgiram: “Dona Ponte”, “Carolaine de Jesus”, todos, como bons cidadãos, opinavam.

O ilustríssimo e internacionalmente conhecido geógrafo baiano Milton Santos, inclusive, morador de Ilhéus no final da década de 1940, ao falar sobre o Lugar, conceito básico – mas não menos importante –  da geografia, se atenta ao dizer que “O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.” Fazendo uso dessa citação, é possível relacionar com a proposta de que a nova ponte surge como um novo cartão postal, como uma forma do Ilheense mostrar para o mundo o seu espaço-vivido, o seu espaço de afeto, a sua identidade. E, para o turista, em suas respectivas fotos, demonstrar uma paisagem cultural ainda mais consolidada, uma ponte estaiada, a primeira desse tipo na Bahia, uma arquitetura contemporânea, o Lugar Ilhéus se conectando a estética global.

Agora, está “entregue”, uma obra realizada pelo Governo do Estado, na figura do governador Rui Costa. É preciso otimismo e que Ilhéus não possa viver apenas um crescimento urbano, mas também um desenvolvimento. O que Jorge Amado acharia disso tudo? Afinal, a ponte leva o seu nome: Ponte Jorge Amado.

O autor Ruy Santana é Ilheense, geógrafo, formado pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Durante a graduação foi orientando de trabalhos de Iniciação Científica sobre a infraestrutura urbana de Ilhéus. Atualmente, atua como Professor de Geografia no Colégio Vitória e como Mediador do Ensino Médio com Intermediação Tecnológica em escola no Couto.   


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