Fábio Roberto Notícias // Ilhéus . Bahia

Ilhéus: relato da mãe da criança que morreu suspeita de gripe H1N1

Leon morreu no hospital Vida Memorial, em Ilhéus.
Leon morreu no hospital Vida Memorial, em Ilhéus.

“Realmente não temos condições nenhuma de está aqui ou em rede social nenhuma, não respondi nenhuma mensagem ainda, mais não dava pra ficar mais calada.

Vamos contar tudo que aconteceu com o nosso menino, todas as oportunidades que ele teve e que nos buscamos mais foram perdidas por conta de burocracias.

Em primeiro lugar queremos deixar nossa revolta com toda a situação e com as chances que nosso filho teve e que foram perdidas.

Depois deixar claro que nada vai apagar essa dor e trazer nosso menino de volta, que agora estamos preocupados em alertar outras famílias pra que nenhuma mais venha sofrer, que nenhuma criança nessa cidade sofra com a falta de apoio ou com a negligência.

No sábado (20/07) nosso Leon estava com tosse e febre sinais de uma “gripe normal”, no domingo(21/07) de manhã ele vomitou e a febre continuo, corremos para o hospital Vida Memorial e lá ele foi diagnosticado com início de uma infecção respiratória, receitado remédios e antibióticos, fomos liberados, estávamos em casa administrando os remédios que foram receitados, ele passou o resto do dia molinho e quieto, seguimos com a medicação ele estava aparentemente bem, porém na madrugada de terça (23/07) ele acordou às 2 da manhã com dor na barriga corremos de volta ao hospital, contei da consulta do domingo, o diagnóstico e mostrei os remédios que ele estava tomando, o médico que estava no plantão me orientou a procurar um pediatra particular para acompanhar ele alegando que lá não faziam exames e que seria melhor para evitar a troca de plantão que acontecia pelo sus, no final disse que as dores eram gases, meu filho foi medicado com Buscopan e soro, retornamos para casa e o nosso menino não dormiu, levantou as 7 da manhã desesperado de dor, levamos ele pra uma consulta de emergência particular no Hospital de Ilhéus, lá exames feitos e constatado que ele estava com alguma bactéria, ele foi medicado para dor e estava bem, algumas horas depois começou a cansar e foi colocado no oxigênio, a médica vendo que o quadro se agravava e da necessidade de transferência pra UTI em Itabuna conseguiu a vaga , conseguiu todos os papéis e exames necessários conversou comigo e estávamos preparados para ir para a UTI só faltava o transporte, a assistência social em contado com a SAMU nos comunicou que o pedido foi negado alegando que não era permitido a transferência de um hospital particular para um público, com a ambulância do próprio hospital e um motorista que se disponibilizou a ajudar nosso filho foi levado para o Vida Memorial, nosso filho tava bem conversando comigo pedindo para ir pra casa a todo tempo, chegando lá a vaga da UTI em Itabuna já havia sido perdida, na mesma noite (23/07) ele teve uma piora e precisou ser entubado pois já não estava respirando direito, ouvi os gritos e chamados do meu pequeno pela última vez, já em coma induzido, respirando por aparelhos e com novos exames feitos começou a ser medicado, ainda não sabíamos o que ele tinha, nenhum diagnóstico além de possível ações de bactérias, depois nos foi conversado e apresentadas as suspeitas de H1N1 ou dengue hemorrágica, e que ele começaria a ser medicado com os protocolos para H1N1, nos foi orientado a levar nosso outro filho de apenas 1 ano para fazer exames por conta da suspeita, não nos foi dada a prioridade nos exames, ele ficou o dia todo no hospital aguardando o resultado do raio-x e do hemograma, correndo risco até de outras contaminações por que ele estava bem mais teve que fazer exames preliminares, na quarta (24/07) ampliaram alguns cuidados e fizeram um acesso ao coração para intensificação dos medicamentos e antibióticos nosso menino estava forte e resistindo, mais uma vez apareceu uma vaga na UTI ele estava sendo preparado mais nenhum médico ou equipe do SAMU queria se responsabilizar em acompanhá-lo por conta do risco na transferência até Itabuna, mais uma vez perdemos a chance, pedimos ajuda a alguns contados que temos, conseguimos uma vaga na UTI de Salvador, uma UTI aérea já estava pronta só esperando a liberação e mais uma vez não foi permitida a ida dele, os próprios médico me falaram que ele só teria chance em uma UTI pois precisava do equipamento certo para a respiração, depois disso a situação se agravou ainda mais, na quinta (25/07) outra chance, mais uma vez apareceu uma vaga na UTI e mais uma vez foi negada em um última tentativa desesperada conseguimos uma UTI móvel particular definimos que íamos tirar nosso filho e íamos levar para a UTI precisávamos de um médico Intensivista que aceitasse levá-lo e íamos ter que assumir total responsabilidade a partir daquele momento e assim fizemos, o médico mesmo com todo o risco aceitou, por que ali ele não teria nenhuma chance e indo pra UTI era uma esperança, mais uma vez ficamos a mercê da burocracia esperando autorizações e papelada enquanto isso nosso meninos sofria e no momento que mais estávamos esperançosos ele não resistiu, não conseguiu sair daquele hospital com vida, ele foi forte lutou até o fim pela vida.

Nesse momento só tentamos entender o por que, o por que de deixarem burocracias serem mais importantes do que uma vida, estamos tentando entendo o por que de mesmo sendo uma suspeita, como uma coisa tão grave como H1N1 foi passada assim sem relevância, não tivemos assistência nenhuma por parte da secretaria de Saúde, o por que dá amostra de sangue não ter sido enviada para salvador desde a primeira hipótese de suspeita, nosso filho convivia com outras crianças e ficamos aflitos por elas, por nosso filho de 1 ano que era grudado no irmão, pelas crianças do bairro, só o fato de ter uma suspeita não teria que ser necessária para uma maior preocupação? e se for confirmado o que vai ser feito? que apoio a população vai receber para evitar mais contaminação, até quando esse monte de processos e permissões vai impedir que vidas sejam salvas? Deixamos aqui essas perguntas e a nossa revolta, mesmo que o nosso filho já estivesse muito acometido como eles alegaram, uma maior atenção e prioridade teria feito toda a diferença, tantos diagnósticos errados, toda essa situação com toda certeza favoreceu a ida do nosso menino disso não temos dúvidas. Sabemos que ele está nos braços do Pai que o Senhor o levou para acabar com o sofrimento dele naquele lugar.

Pedimos a Ele forças e que nossos olhos sejam abertos para lutar e evitar mais casos como este.”


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